sábado, 25 de abril de 2009

CAOS - A IDÉIA

Em 2006 um aluno de Comunicação Social das Faculdades Integradas Hélio Alonso do Rio de Janeiro- FACHA resolveu concluir sua trajetória acadêmica desenvolvendo um projeto experimental em arte. O gaúcho Felipe Cartier, nascido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul propôs a professora Rosângela de Araújo Ainbinder (Doutora em Filosofia-PUC RIO) a criação de uma peça em que falasse do sofrimento humano, da dor de viver... Sob viés do teatro efetivou-se a comunicação - CAOS. A filosofia de Schopenhauer serviu como inspiração de Cartier que reuniu três elementos: estética, fundamento e comunicação. Técnicas do teatro expressionista e do teatro do absurdo serviram de concepção cênica. Assista o vídeo!


A obra apresenta três sobreviventes da guerra civil encarcerados numa gruta: Seni o ‘mestre’ vivido pelo ator e escritor Marco Muniz, Uic o ‘revolucionário’ defendido por Luiz Gustavo Schmitt e Luc o ‘submisso’ na pele de Vinícius Melich. O mestre impõe uma única lei onde é proibido o contato físico ninguém pode se tocar. Até que o ‘revolucionário’ Uic, um dia acorda – Sonhei que todo mundo se tocava. O desejo do simples toque é apenas um artifício simbólico para os sucessivos desejos da vida. A dor de viver, a repetição do desejar, a crueldade humana e o pessimismo são alguns temas preconizados pelo autor da obra. Assista outro vídeo!

Um ano de trabalho dividido em cinco etapas: Estudo bibliográfico, construção do texto, elaboração do projeto, formação de equipe(pré-produção, produção. pós-produção) e ensaios ( oficinas, palestras,cursos). CAOS foi comprovado para mais de 300 pessoas, dentre elas, alunos e professores e funcionários da Facha, assim como registros de gravação da peça, material de divulgação impresso e eletrônico. A obra, de 60 minutos, envolveu mais de 60 profissionais da instituição que abraçaram a idéia. O jornalista Felipe Cartier foi aprovado com nota máxima entrando para a história da FACHA. O primeiro aluno em toda a história da instituição a idealizar uma obra artística como grau de obtenção do título de Jornalista. A idéia resultou em duas apresentações na FACHA e o registro de sua obra na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - Ministério da Cultura.

CAOS - O PROJETO

JUSTIFICATIVA

Sendo o teatro uma ferramenta de alto impacto sensorial atribuindo um papel fundamental na concepção da racionalidade humana, vale aqui, apontar, sem vínculos dogmáticos, a vigilância subversiva no qual estamos incluídos no sistema vigente. Sem falar na dependência incessante de desejos a cargo da mídia, do sistema governamental, das ofertas em demasia. Esse projeto surgiu pela necessidade da reflexão desses conceitos errantes de segurança, resultado da perda da liberdade para numa vida controlada, vigiada e excomungada. A inconformação das realizações mundanas, tudo traduzido a desejos, seguidos de outros e o sistema capitalista beneficiando-se projetando novas carências.
Quando a realização surge a esperança desaparece, nesse momento, ocorre o entediamento. Volta-se a novas desejos e assim sucessivamente, nada cessa. O sofrimento é infinito. CAOS é a maneira mais perversa de expor a concepção do sofrimento vigente. Visto aqui de forma potencializada e de extremo pessimismo por parte do autor, evidenciando que isso faz parte da vida de todos mas, apenas com um pórem – a necessidade de ter olhos pra tal sistema e não apenas se entregar ao mesmo, como se fosse um corpo vazio de pensamento, entregue a subversões calculistas.


Surge então, o que Artur Schopenhauer propõem A ARTE COMO LIBERTAÇÃO, a vontade insatisfeita, a busca constante para sua satisfação e sendo satisfeita nos resta o tédio. A peça traz essa busca do prazer e mais prazer, mas barreiras para tal aparecem, e em fim, novamente a dor, consecutivamente a vida oscila entre dor e tédio; ora um ora outro na relação infinita da vida.“Quando o homem consegue captar o império da vontade, compreende que ele mesmo é vontade. Ao alcançar o 'estágio' da percepção da permanência da vontade almejará a redenção, que só será realidade quando deixar a vontade de viver. A libertação se dá mediante a arte”.


O público ao portar-se frente ao espetáculo, afasta o de seus desejos e o separa das cadeias da vontade. Esta atitude de observação "desapegada" como sendo a estética. Ele [indivíduo e/ou sujeito] mergulha no objeto e esquece de si mesmo, tornando-se livre da vontade, naquele instante ele é puramente observador [e/ou admirador] deixando a dor e o tédio. A música ocupa o lugar mais elevado na arte para esse filósofo, "ela é um exercício oculto da metafísica, sem que o espírito saiba que está filosofando". A música é expressão da vontade, nela é transmitida á história mais secreta da vontade; ela é abstração transmitida. A música afasta o indivíduo da vontade pois, enquanto contempla não deseja, logo, não sofre. Esses curtos momentos de contemplação muito raríssimos são; existe o objetivo de algo mais.
Para Schopenhauer sujeito e objeto são dependentes entre si. O mundo exterior existe como representação enquanto existe o sujeito que 'aponta' para ele, que o observa. Quando o sujeito é dizimado, todo o aparato da representação nele é extinto com ele. No início de Die Welt Als Wille Und Vostellung Schopenhauer escreve que "o mundo é representação minha" e portanto, todo sujeito possuidor de consciência representa o objeto. Isso permite que o objeto seja sempre perceptível por ele através das formas a priori no espaço e no tempo; como não conhecemos as coisas como elas são, mas apenas pelos sentidos através destas formas, os objetos se tornam "conhecidos"; a representação existe pela existência do sujeito. Existe a relação entre o objeto e o sujeito, toda a inclusão no mundo depende do sujeito para tal, e por sua vez 'confirmá-los', ou seja, representá-los.

FUNDAMENTAÇÃO Artur Schopenhauer afirma que nossos anseios, aptidões, sonhos são expressões, como toda natureza possuí: a vontade.A vontade perpetua na condição humana a dor e o sofrimento. Somente há dor e sofrimento quando há um sujeito identificando o mesmo, todo o problema então está na existência, "se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contra-senso do mundo". A existência dá a luz à vontade; quando queremos sofremos, pois querer é sofrer. O fato de que no otimismo a vida é sempre esperançosa é que não vemos o 'agora' e permanecemos no 'vir-a-ser', na esperança de algo melhor do que está, com isso, logo advém a frustração e se torna um círculo vicioso pela vontade de querer estar bem, ou seja, o bem-estar que nada mais é do que singela ilusão.


Contudo, essa vontade de querer torna a condição de existência do homem, uma competitividade para melhor manter-se no bem-estar ou a todo custo buscá-lo, então, "parecemos carneiros a brincar sobre a relva, enquanto o açougueiro já está a escolher um ou outro com os olhos, pois em nossos bons tempos não sabemos que infelicidade justamente agora o destino nos prepara - , doença, perseguição, empobrecimento, mutilação, cegueira, loucura, morte e etc.". A vida é pusilânime em relação ao prazer e a felicidade.

Schopenhauer chama o homem de 'animal metafísico', pois "podemos elaborar filosofia e teologias para mascarar nossos desejos" (Freud); A vontade é universal. Ela está presente no fenômeno da vida. No homem quando a vontade é exacerbada e, no entanto, expressa o instinto "(...) ninguém está mais sujeito a erros do que aquele que só age por reflexo". A suposta felicidade, tão almejada pelos mortais, nada mais é do que simples satisfação consecutiva dos desejos, isto é, de suas vontades.O que certamente resume no homem a vontade é a vontade de viver, bem como todo em toda a forma de vida também; seu eterno inimigo e algoz é a morte. Será a vida capaz de derrotar a morte? E se for, como é possível? Para Schopenhauer não é possível derrotar a morte.

Ela é, é claro, inevitável. Existe um "remédio" para esse dilema; Schopenhauer escreve que a "solução" desse dilema está na vontade de viver e de se reproduzir. Para haver uma 'concessão' da vontade de reprodução é necessário também a negação da vontade de viver. Esta negação da vontade de viver não condiz em absoluto com a eliminação da vida, ou seja, o suicídio. Para Schopenhauer o suicídio nada mais é do que a afirmação da vontade de viver (e da própria vontade):"O suicídio, a voluntariosa destruição da existência fenomenal isolada, é um ato fútil e tolo, porque a coisa em si mesma -a espécie, a vida e a vontade em geral- continua inalterado por ele, assim como o arco-íris dura por maior que seja a velocidade com que os pingos caem". O sujeito [indivíduo] que comete suicídio, o faz, porque sua vontade não é condizente com uma determinada circunstância.

Estamos numa mesma barca, num mesmo mundo de sofrimentos e dores. Como foi mostrado acima, o desejo é insaciável no homem. Quanto mais temos, mais queremos. A culpa existencial do homem é dele mesmo, tanto pela necessidade natural de reproduzir-se, quanto pela contribuição da vontade [individual, e portanto, egoísta] que prolonga o sofrimento no outro, o inferno não é o outro e sim o próprio sujeito. "Seguramente, mesmo aquele que viveu suportavelmente, por mais que dure, mais nitidamente se dá conta de que no todo é um disappointment". [desapontamento; frustração].

O desejo é infinitamente aguçado no homem, portanto, a consumação possui um limite. Quando damos esmola a um mendigo, nada mais fazemos do que prolongar seu sofrimento, mascarado pela suposta caridade. É bastante cômodo para ambos, porque cada um assim, fica em suas respectivas posições; a abstenção da vontade deve se tornar fato para contribuirmos de maneira que ele saia daquela condição [ou posição], evitando o apego por nossas possessões, "(...) a paixão satisfeita leva com mais freqüência à infelicidade do que a felicidade. Porque suas exigências muitas vezes conflitam tanto com o bem estar pessoal do interessado que o prejudicam". A dor está intimamente ligada ao prazer. O prazer é um anestésico à dor. A cada prazer satisfeito buscamos satisfazer outros e assim sucessivamente. Ora, se buscamos constantemente o prazer, estamos afagando o quê? Logo, está aí toda dor da toda existência em nós, em conseqüência, no mundo. O que restaria da dor se fosse apagada? O tédio. O inferno -como diz Schopenhauer- é dor; o céu, é tédio.

Novamente, o mundo é mau, porque a essência do mundo é a vontade que gera dor, e quando "fugimos" da dor advém o tédio, ou seja, mais sofrimento. A dor em si é breve, o homem sofre também pela contribuição da memória, em que ele antecipa as coisas pela ansiedade e a retrospectiva exausta, como vemos nos almoços e jantares em família. A vida e o mundo são maus por que é uma constante guerra. Guerra por um emprego, por um trabalho, por uma mulher, por um espaço, por um tempo e etc..

Por fim, nos advém a morte. "Todo o otimismo é uma zombaria amarga das desgraças do homem" "e a vida é um negócio que não dá para cobrir as despesas". Nossa tão doce e ilusória juventude nada mais nos dá do que o instinto animalesco de vitalidade; nós, jovens, ainda não percebemos que todo esforço é infrutífero e sem compaixão -por causa do egoísmo, insanidade, insaciedade e apetite-, mas a morte está distante e não a vemos, como o alpinista não vê o pico da montanha quando está em sua base. O prêmio, diz Schopenhauer e Platão, deveria ser dado à velhice, porque nela o homem fica livre da paixão animal.

CAOS - PERSONAGENS

Breve subtexto da Ação

Para melhor organizar a estrutura do espetáculo foi necessário criar uma história que levou todos aqueles personagens a estarem naquele lugar, seguindo aquela crença. Como a história foge de todo o realismo, foi desenvolvida uma trama em que se baseia num futuro muito próximo. Após sucessivas guerras, pestes, catástrofes restaram apenas três, ao longo desses problemas deixaram de ser totalmente humanos, sobreviventes de todos esses problemas. Assim a passagem de um estágio para o outro, seguiu da realidade para a fatalidade em seu último grau, uma visão ilusória e puramente pessimista.

Breves conflitos das personagens


MESTRE SENI
Marco Muniz
Senhor detentor de tudo e criador de uma única lei que rege toda a atmosfera. Enunciador de mensagens, de avisos, de alertas... Persuasivo no discurso, contraditório e incerto na ação (devaneios) mas, forte na retórica. Reprime seus desejos e carências, ou seja, almeja aquilo que condena. Na ação SENI espera algo que nunca chega, no caso, a felicidade ou as coisas ditas ‘boas’ da vida. Dentro da trama a figura desse personagem significa a ordem perversa, a força, o próprio pessimismo, porém, completamente dependente de UIC e LUC. Um contrasenso – O personagem tem um agravante físico, pois durante todo o percurso está amarrado não sendo motivo para seus ‘subalternos’ desobedecê-lo. Como se fosse a noção de ascensão da lei, algo quase sobrenatural.
Ação- Esperar

Ações específicas – impor, mandar, delirar, pedir, exigir, persuadir, reprimir, segurar...

Conflito – Esperar algo que nunca chega e indecisão em receber tal espera.


REVOLUCIONÁRIO UIC
Luiz Gustavo Schmitt
Sonhador, calculista, frio, questionador, ambicioso... Características desse personagem que serve como uma aproximação do humano pelo fato de desejar sem se auto condenar. Tudo o que SENI gostaria de ser, mas por falta de coragem prefere não racionalizar as conseqüências se um sistema já estabelecido. Um personagem que se configura como uma possível dependência, transcendência, dando noção de ascensão na história. Um contrasenso - Signo da transformação e da revolução, porém totalmente dependente de LUC para executar seus projetos. Não consegue viver com dogmas por que encontra razão em tudo. Estabelece a figura da inteligência e ao mesmo tempo do fracasso.

Ação – Transformar

Ações específicas – mudar, revolucionar, ambicionar, desejar, criar, arquitetar, lutar, pensar, convencer...

Conflito – Desejar algo que não existe, não conhece num ambiente que não possibilita tal execução. Desejos projetados e conseguidos, mas frustrados.


SUBMISSO LUC
Vinícius Melich
A pesar da ausência aparente de criticidade, a figura deste personagem é a mais reveladora porque para segurar sua sobrevivência, ele canaliza suas ações. Submisso, perspicaz, sagaz, capta informações convenientes. Rancoroso. Previsível na forma, imprevisível no conteúdo. Perigoso obscuro, quase besta. E um grande fator – é o único personagem que não depende de ninguém para sobreviver, pelo contrário, ele seria como um morcego que suga toda a energia dos outros personagens. Obedece as leis até que não afetem sua rotina, esse é o medo. Teme a perda. Ele possui um ascetismo moral porque consegue viver com o necessário. Não condena o desejo mas também não se joga no mesmo. Almeja sempre o que lhe convêm e o necessário. Executa aquilo que irá garanti-lo no sistema e nada mais além disso.

Ação – Temer

Ações específicas – observar, submeter, captar, obedecer, conformar, alertar, criticar, previnir...

Conflito – Durante toda a sua existência conviveu com uma lei que se traduz em nada.

CAOS - FICHA TÉCNICA

ELENCO OFICIAL

Uic – Luiz Gustavo Schmitt
Luc – Vinícius Melich
Seni - Marco Muniz

FICHA TÉCNICA

Autor – Felipe Cartier
Cenografia – Ellen Novaes / Felipe Cartier
Figurino e Maquiagem – Felipe Cartier
Apoio técnico – Pâmella Carvalho / Romullo Assis / Verônica Maia
Contra regra – Romullo Assis
Sonoplastia – Felipe Cartier
Pesquisa Sonora – Louise Simões / Luiz Henrique Dunhan / Felipe Miranda
Arte gráfica – Luiz Henrique Dunham
Preparação corporal - Felipe Cartier
Relações Públicas – Paula Couto
Fotografia - João Luiz Barcellos
Vídeos - Ellen Novaes
Produção Executiva- Ariane Viegas
Assistente de Produção – Luiz Gustavo Schmitt
Produção: Felipe Cartier
Orientação: Rosângela Ainbinder
Direção geral: Felipe Cartier

APOIO

Direção da Facha
Laboratório Audiovisual
Laboratório de Artes Gráficas
Administração do Campus III
Colégio Hélio Alonso.
AGRADECIMENTOS

Aos deuses Iguassú e Suzana ( Amo tanto que chega a doer!!!) agradeço a cada dia por pensarem em acasalarem-se numa noite efervecente do ano de 1980. Esse aborto ao mundo teve minha única suspensão de alegria – Ter vocês como pais. Estendo o agradecimento para toda a família. A Claúdia Alonso por ter confiado no meu trabalho como ator. Ao elenco, resta-me a deferência, pois defender o mundo através da arte é privilégio para poucos e vocês são muitos talentos em três. Aos parceiros da produção digo: ... (Falta palavras!!!) A MINHA orientadora Rosângela, sempre muito generosa e prestativa ( Um Ser iluminado ), aos amigos, Facha, Teatro, professores, Artaud, Brecht, Foucault, Sófocles, Stanislawisch, Nietzsche, Freud, Schopenhauer, Lacan... Agradeço, agradeço, agradeço...

CAOS - A CONSTRUÇÃO

A idéia de se montar a peça não veio por acaso. No segundo semestre de 2005 um grupo de alunos encontraram-se numa disciplina chamada "Processo Criativo do Espetáculo Teatral" ministrada pelo professor da FACHA José Eudes. A disciplina fazia parte da grade curricular do curso de comunicação. Ao final do semestre foi solicitado uma esquete como grau de aprovação na tal disciplina. Reuniu-se então um grupo de sete pessoas que dividiram as tarefas: Na produção: Daniela Barboza, Gisele Haimovitz e Louise Simões. No elenco: Rafael Moraes, Luiz Gustavo Schmitt e Luiz Henrique Dunham e na direção e autoria: Felipe Cartier. O esquete de 20 minutos causou surpresa as pessoas presentes pelo tratamento, empenho e embasamento teórico.
Em 2006, Cartier resolveu tornar-se o esquete em uma peça de 1 hora de duração. Um ano de pesquisa em bibliografias de Schopenhauer: Da Morte; Metafísica do Amor; Do Sofrimento do Mundo / Mundo Como Vontade e Como Representação / Metafísica do Amor, Metafísica da Morte / Arte de Ser Feliz / Metafísica do Belo / Fragmentos Sobre a História da Filosofia / A Arte de Ter Razão / A Arte de Insultar... Livros de Nietzsche: Obras incompletas / Genealogia da moral: uma polemica / Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Para a preparação dos atores um breve estudo da psicanálise, no caso Freud: Inibições, Sintomas e Angústia / Notas sobre Caso Neurose Obsessiva (o Homem Rato) e Histeria: Primeiros Artigos. Este, ajudou a preparação dos atores para melhor desempenho. Em maio de 2006 o texto passou por modificações baseadas nas leituras. Após, formou-se outro grupo onde profissionais tanto do teatro quanto da Comunicação abraçaram o Projeto Caos. Seis meses de preparação de elenco.
METODOLOGIA

A crítica deste projeto se apresenta de forma artística, para tal, primeiro explicou-se a filosofia abordada na dramaturgia, pela ousadia de traduzir um conceito de vida de forma plática. Para a criação das personagens foi desenvolvidas oficinas e cursos para melhor observação dos impulsos repetitivos dos seres humanos ( Cacuetes, tiques, movimentos frenéticos...). A preparação corporal foi fator determinante para a qualidade técnica. A música foi outra forma de composição das personagens, pois alguns movimentos foram utilizados na partitura corporal dos atores durante o espetáculo. Cursos, palestras e exercícios para o elenco foram atributos necessários, assim como, filmes e livros para melhor embasamento teórico.



Depois, a dramaturgia entrou em cena, a ordem das ações foram conduzidas de forma repetitiva e cíclica como fator determinante da dor plena. A representação do texto tem ordem de importância igualitária em relação ás imagens. Forma e conteúdo com o mesmo privilégio. Logo, foi atribuída técnicas teatrais para se chegar a tal concretização. Duas técnicas: Uma revela o teatro de forma dolorida e puramente cruel, outra revela um teatro que provoca a ansiedade sob universo inexplicável, repetitivo e sem noção. A crueldade e o absurdo juntos. Em comum: a metáfora poética modo de projetar seus estgios mais íntimos estados. Imagens que assumem a qualidade fantástica, um teatro anti-realista; dispensa a imitação da fala coloquial e dos ambientes familiares no palco; fala em estilo poético ou declamatório. É um teatro revolucionário e, ao mesmo tempo, fantástico.



Em curta análise, breves conceitos a respeito de ambas técnicas:
Teatro da Crueldade - É a estética ou o conjunto de princípios de dramaturgia formulado pelo poeta, ator e encenador Antonin Artaud, e mais desenvolvidos em seus ensaios teóricos (A evolução do cenário, O teatro de Alfred Jarry, O teatro e seu duplo, O teatro e a peste) do que na prática teatral. Para Artaud, caberia ao teatro uma função igualmente revolucionária, mas em sentido mais psicológico ou subjetivo, pois destinado à liberação dos sentidos, de forças psíquicas adormecidas e continuamente subjugadas do espírito - angústias, medos, frustrações, sonhos, desejos reprimidos e perturbações da alma. As emoções ou "os recessos do coração" contidos no enredo deveriam sobrepujar o lado reflexivo ou racional que ali se pudesse encontrar. Após tomar conhecimento da forma coreográfica balinesa, que assistira em Paris, Artaud radicalizou (estranhamente para um poeta) seu desapreço ao texto dramático, tachando-o de armadilha para um teatro "puro", de predominância gestual e corporal. Palavras no palco eram incapazes de exprimir a vida interior das sensibilidades, sua maior preocupação.

Mesmo porque a vida cotidiana moderna já se tornara vazia de significado espiritual, embora repleta de valores materiais que se acirravam. Propõem então a manifestação da dor, do mal, da irracionalidade reveladora do reprimido, um mergulho nas trevas e no "abismo da crueldade", a única força humana criativa e redentora. Se a dramaturgia que trouxesse de volta o espectador ao mundo dos sonhos e dos instintos, que é "sanguinário e inumano", se a violência e o sangue fossem expostos ao serviço da violência do pensamento, o espectador ficaria purificado de toda agressividade. Segundo ele, "proponho fazer regressar o teatro a essa idéia elementar e mágica, retomada pela psicanálise moderna, que consiste, para obter a cura de um doente, em fazê-lo tornar a atitude exterior do estado ao qual se pretende que regresse". Uma tal visão, metafísica, mística e angustiada, recusava, entretanto, qualquer comprometimento de ordem política ou social.




Teatro do Absurdo - Caracterizado como existencialista, refere-se a tendência na literatura dramática que emerge em París dos princípios dos anos cinquenta, em especial, as obras de Arthur Adamov, Fernando Arrabal, Samuel Beckett, Jean Genet, Eugene Ionesco, Alfred Jarry, Tom Stoppard, Arthur Adamov, Harold Pinter, Slawomir Mrozek. e Jean Tardieu. Caracteriza-se por tramas que parecem carecer de significado, diálogos repetitivos e falta de sequencia dramática criando uma atmósfera onírica.Expressa uma generalizada ansiedade sobre a aproximação da morte. Acontecimentos tão traumáticos são revividos e lembrados a toda hora, fator gerador de desconfortos. O tempo é um artifício muito atribuído as peças absurdas e retratadas nesta de maneira potencializada.

Breves conceitos utilizados através da percepção crítico –estética da trama que pretende viabilizar um conflito potencializado, como se fosse o estágio mais complicado da dor. Tempos e diálogos que no primeiro momento parecem não ter sentido mas, carregados de signos. A repetição de certos diálogos tem como objetivo de reforçar a repetição dos desejos inerentes na figura humana, só que demonstrados aqui, de forma redundante e muitas vezes contraditórias. Entreatos, pausas e coreografias características precisas do absurdo, aqui confluem com a teoria da Crueldade, ou seja, conteúdo e forma. Sendo que o conteúdo se processa através de signos.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

CAOS SURGIU...

Revelar a(s) ‘vontade(s)’ repetitiva(s) do ser humano infinitamente aguçado no homem: angústias, medos, frustrações, sonhos, desejos reprimidos e perturbações da alma. Esse é o objetivo da peça teatral Caos de Felipe Cartier, sob orientação da professora Rosângela de Araújo Ainbinder - Doutora em Filosofia (PUC-RIO). Esse era o trabalho final de Cartier para obtenção de conclusão no Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso-RJ(2006). A idéia do projeto, caracterizou-se como algo original e pioneiro dentro da instituição, já que nenhuma obra de arte tinha sido proposto como monografia. Cartier desenvolveu um estudo sobre o sofrimento humano baseado nas obras do filósofo Artur Schopenhauer em que resultou um espetáculo de sua autoria. A obra está registrada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – Ministério da Cultura.



A INSPIRAÇÃO
A obra, inspirada na filosofia de Arthur Schopenhauer, afirma que nossos anseios, aptidões e sonhos são expressões, como toda natureza possuí: a vontade. Para o filósofo a vontade se perpetua na condição humana a dor e o sofrimento, a existência dá a luz à vontade, ou seja, querer é sofrer. O projeto surgiu pela necessidade da reflexão dos conceitos errantes de segurança, resultado da perda da liberdade para numa vida controlada e vigiada.
Além da inconformação das realizações mundanas, traduzido a desejos junto do sistema capitalista beneficiando-se com a produção de supostas novidades. Uma sistematização da produção da carência, do desejo conquistado e do entediamento. Uma das idéias centrais da peça é apresentar os comportamentos casuais (aleatórios) governado(s) por lei(s), que no primeiro momento servem para edificar a ordem dos fatos, mas que com o passar torna-se objeto de desejo contínuo e instigante.

O AUTOR DA INSPIRAÇÃO
"Se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contra-senso do mundo. Pois constitui um absurdo supor que a dor infinita, originária da necessidade essencial a vida, de que o mundo está pleno, é sem sentido e puramente acidental. Nossa receptividade para a dor é quase infinita, aquela para o prazer possui limites estreitos. Embora toda a infelicidade individual apareça com exceção, a infelicidade em geral constitui a regra. A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar, os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas, entreatos, uma vez aqui e ali. E de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua, porém não somente metafórica, com necessidade ou tédio, mas também realmente com outros. Por toda a parte ele encontra opositor, vive em constante luta e morre de armas em punho”. Schopenhauer

A CONCEPÇÃO

Uma concepção cênica desenvolvida de forma repetitiva e cíclica onde prevê a dor plena em estado de subserviência. Caos propõem uma superfície imprevisível, áspera, perturbada, em que demonstra a vida de forma dolorida e puramente cruel, que provoca a ansiedade sob universo inexplicável, repetitivo e sem noção. A crueldade e o absurdo juntos. Pausas angustiantes, movimentos exaustivos, contenção de energia e diálogos que parecem não ter sentido, porém carregados de signos que são desmembrados no decorrer são algumas características da trama. Essa estética objetiva: Estabelecer estratégias de sedução que promovam a repetição de desejos seguidos de entediações; Criar pausas que causem desconforto procurando alertar a importância do tempo e sua função dentro de um sistema qualquer; Demonstrar o estado de dependência dos personagens; Fundamentar todos conflitos baseados em signos; Provocar a repetição dos anseios e aptidões do ser humano e desenvolver, o que Schopenhauer, intitula ‘Pêndulo Macabro’ – A oscilação entre Desejo -Vontade - Tédio.
Por isso, a repetição de certos diálogos tem como meta reforçar a repetição dos desejos inerentes na figura humana, demonstrados de forma redundante e muitas vezes contraditórias. A proposta da obra de Cartier supõe uma provocação da racionalização das agruras vigentes no estágio mais conturbado e potencializado em seu último grau. A visão do humano como um Ser podre em sua essência, imprevisível em suas atitudes e cruel em seus pensamentos. Um fomentador de simulacros sem vestígios. Caos é a visão do fim que já existe, sem a possibilidade de concerto. Sob essa atmosfera nasceu CAOS.