sábado, 25 de abril de 2009

CAOS - O PROJETO

JUSTIFICATIVA

Sendo o teatro uma ferramenta de alto impacto sensorial atribuindo um papel fundamental na concepção da racionalidade humana, vale aqui, apontar, sem vínculos dogmáticos, a vigilância subversiva no qual estamos incluídos no sistema vigente. Sem falar na dependência incessante de desejos a cargo da mídia, do sistema governamental, das ofertas em demasia. Esse projeto surgiu pela necessidade da reflexão desses conceitos errantes de segurança, resultado da perda da liberdade para numa vida controlada, vigiada e excomungada. A inconformação das realizações mundanas, tudo traduzido a desejos, seguidos de outros e o sistema capitalista beneficiando-se projetando novas carências.
Quando a realização surge a esperança desaparece, nesse momento, ocorre o entediamento. Volta-se a novas desejos e assim sucessivamente, nada cessa. O sofrimento é infinito. CAOS é a maneira mais perversa de expor a concepção do sofrimento vigente. Visto aqui de forma potencializada e de extremo pessimismo por parte do autor, evidenciando que isso faz parte da vida de todos mas, apenas com um pórem – a necessidade de ter olhos pra tal sistema e não apenas se entregar ao mesmo, como se fosse um corpo vazio de pensamento, entregue a subversões calculistas.


Surge então, o que Artur Schopenhauer propõem A ARTE COMO LIBERTAÇÃO, a vontade insatisfeita, a busca constante para sua satisfação e sendo satisfeita nos resta o tédio. A peça traz essa busca do prazer e mais prazer, mas barreiras para tal aparecem, e em fim, novamente a dor, consecutivamente a vida oscila entre dor e tédio; ora um ora outro na relação infinita da vida.“Quando o homem consegue captar o império da vontade, compreende que ele mesmo é vontade. Ao alcançar o 'estágio' da percepção da permanência da vontade almejará a redenção, que só será realidade quando deixar a vontade de viver. A libertação se dá mediante a arte”.


O público ao portar-se frente ao espetáculo, afasta o de seus desejos e o separa das cadeias da vontade. Esta atitude de observação "desapegada" como sendo a estética. Ele [indivíduo e/ou sujeito] mergulha no objeto e esquece de si mesmo, tornando-se livre da vontade, naquele instante ele é puramente observador [e/ou admirador] deixando a dor e o tédio. A música ocupa o lugar mais elevado na arte para esse filósofo, "ela é um exercício oculto da metafísica, sem que o espírito saiba que está filosofando". A música é expressão da vontade, nela é transmitida á história mais secreta da vontade; ela é abstração transmitida. A música afasta o indivíduo da vontade pois, enquanto contempla não deseja, logo, não sofre. Esses curtos momentos de contemplação muito raríssimos são; existe o objetivo de algo mais.
Para Schopenhauer sujeito e objeto são dependentes entre si. O mundo exterior existe como representação enquanto existe o sujeito que 'aponta' para ele, que o observa. Quando o sujeito é dizimado, todo o aparato da representação nele é extinto com ele. No início de Die Welt Als Wille Und Vostellung Schopenhauer escreve que "o mundo é representação minha" e portanto, todo sujeito possuidor de consciência representa o objeto. Isso permite que o objeto seja sempre perceptível por ele através das formas a priori no espaço e no tempo; como não conhecemos as coisas como elas são, mas apenas pelos sentidos através destas formas, os objetos se tornam "conhecidos"; a representação existe pela existência do sujeito. Existe a relação entre o objeto e o sujeito, toda a inclusão no mundo depende do sujeito para tal, e por sua vez 'confirmá-los', ou seja, representá-los.

FUNDAMENTAÇÃO Artur Schopenhauer afirma que nossos anseios, aptidões, sonhos são expressões, como toda natureza possuí: a vontade.A vontade perpetua na condição humana a dor e o sofrimento. Somente há dor e sofrimento quando há um sujeito identificando o mesmo, todo o problema então está na existência, "se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contra-senso do mundo". A existência dá a luz à vontade; quando queremos sofremos, pois querer é sofrer. O fato de que no otimismo a vida é sempre esperançosa é que não vemos o 'agora' e permanecemos no 'vir-a-ser', na esperança de algo melhor do que está, com isso, logo advém a frustração e se torna um círculo vicioso pela vontade de querer estar bem, ou seja, o bem-estar que nada mais é do que singela ilusão.


Contudo, essa vontade de querer torna a condição de existência do homem, uma competitividade para melhor manter-se no bem-estar ou a todo custo buscá-lo, então, "parecemos carneiros a brincar sobre a relva, enquanto o açougueiro já está a escolher um ou outro com os olhos, pois em nossos bons tempos não sabemos que infelicidade justamente agora o destino nos prepara - , doença, perseguição, empobrecimento, mutilação, cegueira, loucura, morte e etc.". A vida é pusilânime em relação ao prazer e a felicidade.

Schopenhauer chama o homem de 'animal metafísico', pois "podemos elaborar filosofia e teologias para mascarar nossos desejos" (Freud); A vontade é universal. Ela está presente no fenômeno da vida. No homem quando a vontade é exacerbada e, no entanto, expressa o instinto "(...) ninguém está mais sujeito a erros do que aquele que só age por reflexo". A suposta felicidade, tão almejada pelos mortais, nada mais é do que simples satisfação consecutiva dos desejos, isto é, de suas vontades.O que certamente resume no homem a vontade é a vontade de viver, bem como todo em toda a forma de vida também; seu eterno inimigo e algoz é a morte. Será a vida capaz de derrotar a morte? E se for, como é possível? Para Schopenhauer não é possível derrotar a morte.

Ela é, é claro, inevitável. Existe um "remédio" para esse dilema; Schopenhauer escreve que a "solução" desse dilema está na vontade de viver e de se reproduzir. Para haver uma 'concessão' da vontade de reprodução é necessário também a negação da vontade de viver. Esta negação da vontade de viver não condiz em absoluto com a eliminação da vida, ou seja, o suicídio. Para Schopenhauer o suicídio nada mais é do que a afirmação da vontade de viver (e da própria vontade):"O suicídio, a voluntariosa destruição da existência fenomenal isolada, é um ato fútil e tolo, porque a coisa em si mesma -a espécie, a vida e a vontade em geral- continua inalterado por ele, assim como o arco-íris dura por maior que seja a velocidade com que os pingos caem". O sujeito [indivíduo] que comete suicídio, o faz, porque sua vontade não é condizente com uma determinada circunstância.

Estamos numa mesma barca, num mesmo mundo de sofrimentos e dores. Como foi mostrado acima, o desejo é insaciável no homem. Quanto mais temos, mais queremos. A culpa existencial do homem é dele mesmo, tanto pela necessidade natural de reproduzir-se, quanto pela contribuição da vontade [individual, e portanto, egoísta] que prolonga o sofrimento no outro, o inferno não é o outro e sim o próprio sujeito. "Seguramente, mesmo aquele que viveu suportavelmente, por mais que dure, mais nitidamente se dá conta de que no todo é um disappointment". [desapontamento; frustração].

O desejo é infinitamente aguçado no homem, portanto, a consumação possui um limite. Quando damos esmola a um mendigo, nada mais fazemos do que prolongar seu sofrimento, mascarado pela suposta caridade. É bastante cômodo para ambos, porque cada um assim, fica em suas respectivas posições; a abstenção da vontade deve se tornar fato para contribuirmos de maneira que ele saia daquela condição [ou posição], evitando o apego por nossas possessões, "(...) a paixão satisfeita leva com mais freqüência à infelicidade do que a felicidade. Porque suas exigências muitas vezes conflitam tanto com o bem estar pessoal do interessado que o prejudicam". A dor está intimamente ligada ao prazer. O prazer é um anestésico à dor. A cada prazer satisfeito buscamos satisfazer outros e assim sucessivamente. Ora, se buscamos constantemente o prazer, estamos afagando o quê? Logo, está aí toda dor da toda existência em nós, em conseqüência, no mundo. O que restaria da dor se fosse apagada? O tédio. O inferno -como diz Schopenhauer- é dor; o céu, é tédio.

Novamente, o mundo é mau, porque a essência do mundo é a vontade que gera dor, e quando "fugimos" da dor advém o tédio, ou seja, mais sofrimento. A dor em si é breve, o homem sofre também pela contribuição da memória, em que ele antecipa as coisas pela ansiedade e a retrospectiva exausta, como vemos nos almoços e jantares em família. A vida e o mundo são maus por que é uma constante guerra. Guerra por um emprego, por um trabalho, por uma mulher, por um espaço, por um tempo e etc..

Por fim, nos advém a morte. "Todo o otimismo é uma zombaria amarga das desgraças do homem" "e a vida é um negócio que não dá para cobrir as despesas". Nossa tão doce e ilusória juventude nada mais nos dá do que o instinto animalesco de vitalidade; nós, jovens, ainda não percebemos que todo esforço é infrutífero e sem compaixão -por causa do egoísmo, insanidade, insaciedade e apetite-, mas a morte está distante e não a vemos, como o alpinista não vê o pico da montanha quando está em sua base. O prêmio, diz Schopenhauer e Platão, deveria ser dado à velhice, porque nela o homem fica livre da paixão animal.

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