sábado, 25 de abril de 2009

CAOS - A CONSTRUÇÃO

A idéia de se montar a peça não veio por acaso. No segundo semestre de 2005 um grupo de alunos encontraram-se numa disciplina chamada "Processo Criativo do Espetáculo Teatral" ministrada pelo professor da FACHA José Eudes. A disciplina fazia parte da grade curricular do curso de comunicação. Ao final do semestre foi solicitado uma esquete como grau de aprovação na tal disciplina. Reuniu-se então um grupo de sete pessoas que dividiram as tarefas: Na produção: Daniela Barboza, Gisele Haimovitz e Louise Simões. No elenco: Rafael Moraes, Luiz Gustavo Schmitt e Luiz Henrique Dunham e na direção e autoria: Felipe Cartier. O esquete de 20 minutos causou surpresa as pessoas presentes pelo tratamento, empenho e embasamento teórico.
Em 2006, Cartier resolveu tornar-se o esquete em uma peça de 1 hora de duração. Um ano de pesquisa em bibliografias de Schopenhauer: Da Morte; Metafísica do Amor; Do Sofrimento do Mundo / Mundo Como Vontade e Como Representação / Metafísica do Amor, Metafísica da Morte / Arte de Ser Feliz / Metafísica do Belo / Fragmentos Sobre a História da Filosofia / A Arte de Ter Razão / A Arte de Insultar... Livros de Nietzsche: Obras incompletas / Genealogia da moral: uma polemica / Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Para a preparação dos atores um breve estudo da psicanálise, no caso Freud: Inibições, Sintomas e Angústia / Notas sobre Caso Neurose Obsessiva (o Homem Rato) e Histeria: Primeiros Artigos. Este, ajudou a preparação dos atores para melhor desempenho. Em maio de 2006 o texto passou por modificações baseadas nas leituras. Após, formou-se outro grupo onde profissionais tanto do teatro quanto da Comunicação abraçaram o Projeto Caos. Seis meses de preparação de elenco.
METODOLOGIA

A crítica deste projeto se apresenta de forma artística, para tal, primeiro explicou-se a filosofia abordada na dramaturgia, pela ousadia de traduzir um conceito de vida de forma plática. Para a criação das personagens foi desenvolvidas oficinas e cursos para melhor observação dos impulsos repetitivos dos seres humanos ( Cacuetes, tiques, movimentos frenéticos...). A preparação corporal foi fator determinante para a qualidade técnica. A música foi outra forma de composição das personagens, pois alguns movimentos foram utilizados na partitura corporal dos atores durante o espetáculo. Cursos, palestras e exercícios para o elenco foram atributos necessários, assim como, filmes e livros para melhor embasamento teórico.



Depois, a dramaturgia entrou em cena, a ordem das ações foram conduzidas de forma repetitiva e cíclica como fator determinante da dor plena. A representação do texto tem ordem de importância igualitária em relação ás imagens. Forma e conteúdo com o mesmo privilégio. Logo, foi atribuída técnicas teatrais para se chegar a tal concretização. Duas técnicas: Uma revela o teatro de forma dolorida e puramente cruel, outra revela um teatro que provoca a ansiedade sob universo inexplicável, repetitivo e sem noção. A crueldade e o absurdo juntos. Em comum: a metáfora poética modo de projetar seus estgios mais íntimos estados. Imagens que assumem a qualidade fantástica, um teatro anti-realista; dispensa a imitação da fala coloquial e dos ambientes familiares no palco; fala em estilo poético ou declamatório. É um teatro revolucionário e, ao mesmo tempo, fantástico.



Em curta análise, breves conceitos a respeito de ambas técnicas:
Teatro da Crueldade - É a estética ou o conjunto de princípios de dramaturgia formulado pelo poeta, ator e encenador Antonin Artaud, e mais desenvolvidos em seus ensaios teóricos (A evolução do cenário, O teatro de Alfred Jarry, O teatro e seu duplo, O teatro e a peste) do que na prática teatral. Para Artaud, caberia ao teatro uma função igualmente revolucionária, mas em sentido mais psicológico ou subjetivo, pois destinado à liberação dos sentidos, de forças psíquicas adormecidas e continuamente subjugadas do espírito - angústias, medos, frustrações, sonhos, desejos reprimidos e perturbações da alma. As emoções ou "os recessos do coração" contidos no enredo deveriam sobrepujar o lado reflexivo ou racional que ali se pudesse encontrar. Após tomar conhecimento da forma coreográfica balinesa, que assistira em Paris, Artaud radicalizou (estranhamente para um poeta) seu desapreço ao texto dramático, tachando-o de armadilha para um teatro "puro", de predominância gestual e corporal. Palavras no palco eram incapazes de exprimir a vida interior das sensibilidades, sua maior preocupação.

Mesmo porque a vida cotidiana moderna já se tornara vazia de significado espiritual, embora repleta de valores materiais que se acirravam. Propõem então a manifestação da dor, do mal, da irracionalidade reveladora do reprimido, um mergulho nas trevas e no "abismo da crueldade", a única força humana criativa e redentora. Se a dramaturgia que trouxesse de volta o espectador ao mundo dos sonhos e dos instintos, que é "sanguinário e inumano", se a violência e o sangue fossem expostos ao serviço da violência do pensamento, o espectador ficaria purificado de toda agressividade. Segundo ele, "proponho fazer regressar o teatro a essa idéia elementar e mágica, retomada pela psicanálise moderna, que consiste, para obter a cura de um doente, em fazê-lo tornar a atitude exterior do estado ao qual se pretende que regresse". Uma tal visão, metafísica, mística e angustiada, recusava, entretanto, qualquer comprometimento de ordem política ou social.




Teatro do Absurdo - Caracterizado como existencialista, refere-se a tendência na literatura dramática que emerge em París dos princípios dos anos cinquenta, em especial, as obras de Arthur Adamov, Fernando Arrabal, Samuel Beckett, Jean Genet, Eugene Ionesco, Alfred Jarry, Tom Stoppard, Arthur Adamov, Harold Pinter, Slawomir Mrozek. e Jean Tardieu. Caracteriza-se por tramas que parecem carecer de significado, diálogos repetitivos e falta de sequencia dramática criando uma atmósfera onírica.Expressa uma generalizada ansiedade sobre a aproximação da morte. Acontecimentos tão traumáticos são revividos e lembrados a toda hora, fator gerador de desconfortos. O tempo é um artifício muito atribuído as peças absurdas e retratadas nesta de maneira potencializada.

Breves conceitos utilizados através da percepção crítico –estética da trama que pretende viabilizar um conflito potencializado, como se fosse o estágio mais complicado da dor. Tempos e diálogos que no primeiro momento parecem não ter sentido mas, carregados de signos. A repetição de certos diálogos tem como objetivo de reforçar a repetição dos desejos inerentes na figura humana, só que demonstrados aqui, de forma redundante e muitas vezes contraditórias. Entreatos, pausas e coreografias características precisas do absurdo, aqui confluem com a teoria da Crueldade, ou seja, conteúdo e forma. Sendo que o conteúdo se processa através de signos.

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